No ano em que o tratado de Lousanne (1923) – tratado o qual dividiu o Curdistão em 4 partes entre Turquia, Iraque, Síria e Irã – completa seus 100 anos, o momento é crítico. A luta revolucionária entrou no seu 50.º ano em 2023, 25 destes nosso líder Rêber APO encontra-se preso em total isolamento. A última vez que houve qualquer informação com Ocalan foi em 25 de abril de 2021 durante um telefonema com seu irmão Mehmet Ocalan; Rezan Sarıca e Nevroz Uysal, dois dos advogados de Öcalan, puderam se encontrar com seus clientes após 8 anos, de 2 a 22 de maio, de 12 a 18 de junho e de 7 de agosto de 2019. Desde então, não houve nenhuma visita.

Sob essa realidade e o conceito dos ocupantes de controle e guerra psicológica, o estado fascista turco tenta afastar o povo curdo das ideias e práxis de Rêber APO. Desde seu sequestro em 1999, diversas foram as políticas e os métodos usados pelo estado para tentar afastar o povo da linha revolucionária desenvolvida por Ocalan, entretanto, isso não se concretizou. Sob essa realidade, já sob o período de governo de Erdogan e das políticas do regime AKP-MHP, houve o período de negociações de um cessar-fogo entre o estado turco e o movimento revolucionário curdo. Em 2013 foi divulgado que essas conversas estavam avançando de maneira promissora e o povo curdo passou a ter a esperança numa solução política para os problemas encontrados e vividos no território.
Porém, mais uma vez essas políticas do estado turco provaram ser um método de enganação da guerra especial, em especial a partir do assassinato em Paris da vanguarda do movimento revolucionário e a linha da luta pela libertação das mulheres, Heval Sara, no começo de 2013. Apesar desse ataque, dos avisos de Rêber APO para o momento e seus perigos, o movimento revolucionário ainda acreditou que uma solução distante da luta armada em grandes proporções seria possível – visto que esse método que fora utilizado nos anos 1990 deixou milhares de mártires. Em 2015, durante as eleições para presidência e para o parlamento, Erdogan fora eleito mas perdeu a maioria no parlamento devido ao crescimento do partido o qual defende a liberdade de todos os povos e luta por uma turquia democrática – o HDP, desenvolvido pelo movimento revolucionário curdo e composto em sua maioria por curdos, mas também por árabes, turcomenos e outros povos da região. Não aceitando o resultado das eleições, o regime de Erdogan vetou e não aceitou a elegibilidade de centenas de prefeitos, governadores e deputados do HDP.
A GUERRA POR AUTONOMIA EM BAKUR
Sob essa realidade autoritária, o movimento revolucionário no Curdistão do Norte, Bakur (ocupado pelo estado turco) declarou então a autonomia de dezenas de regiões, seguindo o exemplo da revolução de Rojava e seu sistema de Cantões que ocorrera 2 anos antes. O que se seguiu foi uma intensa militarização dessas regiões, de início por parte da polícia, a qual foi respondida com a força do povo e a resistência em especial da juventude da YDG-H. Entretanto, em pouco tempo, o regime turco declarou estado de emergência para essas regiões e convocou as pessoas a retirarem-se da região, impondo um controle estrito nas cidades e toques de recolher.
O povo manteve-se resistindo, porém passou a ter dificuldades a partir do momento em que os suprimentos básicos da vida cotidiana lhes fora cortado. Além disso, a luta armada iniciara-se e isso levou a uma extrema militarização do estado na região, tanques de guerra, aviões de guerra e artilharia foram usados contra jovens que resistiram bravamente e heroicamente com pistolas e rifles automáticos. Mesmo sob uma realidade desigual e injusta, a resistência do povo curdo e de sua juventude entraram para a história. Sob a linha da guerra popular revolucionária esse processo durou por meses até que o estado fascista turco tivesse o controle da região novamente.
A POLÍTICA GENOCIDA DO SRI LANKA
Assim como na luta revolucionária desenvolvida no Sri Lanka, a qual durou por décadas, esta chegou a um ponto de tensões em que não havia tanto o avanço ou do estado ou das forças revolucionárias. Sob a fachada de desenvolver uma solução ao conflito, o movimento revolucionário foi enganado enquanto as forças militares do poder hegemônico se reorganizavam e se modernizavam. Quando estas lançaram sua operação final contra os revolucionários, os cercaram fisicamente até desenvolverem uma vitória militar…as políticas utilizadas pelo estado turco e os demais países que ocupam o Curdistão encontram-se numa situação a qual desenvolvem essa política. Sob esse conceito, desde 2015 o estado fascista turco tem lançado operações anuais contra o movimento revolucionário curdo localizado nas montanhas livres do Curdistão em Bashur, Curdistão do Sul e até mesmo atacando por dezenas de vezes as montanhas de Rojhilat, Curdistão Leste.
SITUAÇÃO ATUAL
Desde 2015, a violência devastou comunidades no sudeste da Turquia, de maioria curda, e – às vezes – atingiu o coração dos maiores centros metropolitanos do país. Uma explosão sem precedentes de combates e ataques em alguns distritos urbanos do sudeste no primeiro semestre de 2016 foi seguida por uma mudança gradual da violência para as áreas rurais e para o território do Curdistão do Sul, norte do Iraque. As operações mais recentes do estado fascista turco tem focado nas montanhas livres com o objetivo a destruição completa da guerrilha do PKK, por dezenas de vezes os representantes do estado fascista vieram ao público e prometeram que aquele seria o último ano ‘da luta contra o terrorismo’, entretanto, uma vez mais foram sempre calados pela postura revolucionária e a prática inabalável dos militantes do partido e suas resistências épicas.
Sob o nome de Operação Garra, desde 2020 o estado fascista turco tem focado seus ataques na região de Zap, Metina e Avashin, a qual é um ponto estratégico da fronteira entre o Norte e o Sul do Curdistão e uma zona controlada pela guerrilha desde os anos 1990. Entretanto, devido a uma resistência inigualável e com uma postura revolucionária impar, o PKK tem resistido a estes ataques nestes 3 anos ininterruptos de guerra e o estado fascista até o momento não alcançou seus objetivos na região. Devido a isso, passaram a usar armas proibidas como gases químicos e bombas termo báricas nas posições da guerrilha desde 2021, sob medidas extrapolantes e desumanas – e ainda assim, não alcançaram seus objetivos.
Com o apoio dos colabores do KDP (Partido democrático do Curdistão) da família Barzani, o estado turco tem ocupado lentamente o território do Norte do Iraque e construído bases militares na região. Além disso, a nível econômico, o estado fascista turco tornou-se o maior colaborador do Governo Regional do Curdistão (um estado semi-autonomo dentro do iraque e controlado pelo KDP desde 1992). Opositores do regime de Barzani são silenciados com censura, encarceramento e assassinatos.
JIN JIYAN AZADI – Uma revolta esperada mas ainda assim, uma surpresa
Com a revolução em Rojhilat Curdistão, o apelo à liberdade não apenas em Rojhilat e no Irã, mas em todo o mundo recebeu um novo ímpeto. Com o slogan “Jin, Jiyan, Azadî” as mulheres em Rojhilat Curdistão começaram a expressar sua oposição ao regime opressivo no Irã. Com essa reputação e a propagação da rebelião em Rojhilat e no Irã, eles atraíram a atenção mundial. Este apelo foi ouvido em comícios e manifestações nas ruas da Europa, no Parlamento Europeu e no Bundestag alemão, este slogan se tornou uma hashtag popular na mídia digital. Mas, como foi observado criticamente em muitos lugares, Jin, Jiyan, Azadi não é apenas um slogan impresso em uma camiseta e, portanto, simboliza sua atitude feminista. Jin, Jiyan, Azadi é um modo de vida, é uma atitude na vida, afetando todas as áreas da vida humana. Isso deve ser bem compreendido no uso inflacionário desse termo.
“Eu sempre digo que as condições em que ‘Jin e Jiyan’ deixam de significar mulher e vida refletem a decadência e dissolução da sociedade. A menos que analisemos esta realidade e nos mobilizemos para o caminho da liberdade, aqueles elementos que chamamos de revolução, partido revolucionário, líderes e militantes não podem desempenhar o papel pretendido”. – Rêber APO
É óbvio que os regimes patriarcais não aceitam o despertar das mulheres amantes da liberdade e tentam atacá-las de várias maneiras e forçá-las a um sono renovado da morte. As mulheres em Rojhilat e no Irã, nos países europeus, nos países da América do Sul, no Afeganistão e na Turquia devem fortalecer seus mecanismos de autodefesa e, sobretudo, se fundamentar ideologicamente. A melhor leitura sobre isso só podem ser os livros de quem, com suas pesquisas, suas análises, mas também com suas ações, se tornou o assassino da mentalidade de dominação masculina e, portanto, fez dos sistemas internacionais de dominação seus inimigos. Aquele que fez de tudo para despertar as mulheres do sono da morte e levou sua força e consciência às alturas. Reber APO. Através do trabalho dedicado e esforço de Rêber APO, o Curdistão tornou-se a fonte de esperança para a liberdade em todo o Oriente Médio e ao redor do mundo. Porque no Curdistão as mulheres se levantaram, se recriaram e se organizaram de acordo com seu papel original no sentido de “Jin, Jiyan, Azadi”. As maiores heroínas surgiram do exército feminino do YJA Star, que sacrificaram suas vidas pela liberdade, contra tudo que destrói a vida e atenta contra a liberdade.
O fato dessa revolta ter tomado as ruas de Rojhilat e do Irã com a vanguarda e atitude das mulheres foi algo o qual gerou receio e medo no estado iraniano e consequentemente em diversos outros estados da região. A ideia da propagação da Revolução de mulheres desenvolvidas pelo movimento revolucionário do Curdistão é algo que unifica as forças dominantes do Oriente Médio e do Mundo na luta contra essa linha. Encontros entre representantes dos 4 estados que ocupam o Curdistão, e também com a participação ativa do estado Russo, ocorreram dezenas de vezes desde o início dessa revolta popular.
ACORDOS ENTRE OS ESTADOS PARA DESTRUIR O MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO
Mais do que nunca, a cooperação entre os estados ocupantes atingiu um novo patamar. Encontros e trocas de informações os quais eram realizados sorrateiramente, agora são realizados de maneira aberta e clara, de forma a qual deixam clara sua mensagem aos povos da região. Estes estados não estão aceitos a recuar nem um passo sequer aos desejos populares de uma região democrática, pelo contrário, estão dispostos mais do que nunca a se dedicarem na repressão dessa vontade e no desenvolvimento de uma linha unificada diante a essa realidade.
Dessa maneira, os ataques ao movimento revolucionário são frequentes e constantes. Sejam nas cidades da Turquia e Bakur com a prisão de centenas de jornalistas, advogados, estudantes e até mesmo senhoras de idades que são mães de revolucionários ou com os ataques de drones em Rojava mirando as lideranças do movimento. Seja em Bashur, com assassinatos da vanguarda do movimento de Mulheres e da Jineolojî ou em Rojhilat com a execução pública de dezenas de jovens mulheres que se levantaram contra o sistema misógino iraniano…o movimento e aqueles que se posicionam lado a lado a ele e seu ideal estão sendo atacados por todos os lados.
A LINHA REVOLUCIONÁRIA DE RÊBER APO JAMAIS SERÁ BARRADA
Após 50 anos de luta revolucionária, milhares de mártires e histórias de resistência como as da resistência no presídio de Amed, a luta da guerrilha em Gare, Gire Sor, Werxele, Heftanin, Zap, Dersim…são incontáveis os exemplos de uma luta inabalável e de personalidades militantes as quais lutaram até seu último suspiro, militantes os quais preferiram tirar suas vidas do que se entregar ao inimigo. A linha da revolução no Curdistão tem como base justamente manter viva e memória de seus mártires, lutar para construir o mundo pelo qual eles deram suas vidas, justamente por isso é impossível que as forças do poder hegemônico sejam capazes de derrotar a Revolução.
Podem existir melhores ou piores momentos da conjuntura, mas com as perspectivas e exemplos dados por Rêbertî e sua prática, sua resistência e vitória em Imrali, o movimento é capaz de superar quaisquer dificuldades. Da mesma forma a qual os Hevals resistem nesse momento nas montanhas livres contra toda a tecnologia do inimigo e seus constantes ataques, todos aqueles que caminham na linha de Rêbertî estão resistindo aos ataques do sistema da modernidade capitalista. Rêber APO diz que se chegar o dia em que houver somente um único membro do partido, ainda assim o PKK viverá e se reerguerá.
Para cada passo pelo inimigo, o movimento revolucionário dá 2 em resposta. Entre erros e acertos, problemas da realidade, dificuldades econômicas, um embargo político e econômico na região que sequer é reconhecida como um país, ainda assim a Revolução vive. A linha da Guerra Popular Revolucionária continua a ser desenvolvida constantemente, os povos da região encontram no paradigma de Rêber APO a alternativa para uma vida livre. O movimento revolucionário continua crescendo, com a participação de jovens não somente do Oriente Médio mas de todo o mundo. O Curdistão é um farol de esperança para um outro mundo, o qual todos são contemplados e respeitados, o qual o socialismo vive-se de forma verdadeira e pura. O momento é crítico, a conjuntura complexa e complicada, mas mais do que nunca as janelas de oportunidades revolucionárias para um avanço histórico estão à nossa frente.