Uma subcultura é um grupo de pessoas dentro de uma sociedade cultural que se diferencia dos valores conservadores e padrão aos quais pertence, muitas vezes mantendo alguns de seus princípios fundadores. As subculturas desenvolvem suas próprias normas e valores em relação a questões culturais, políticas e sexuais. Exemplos de subculturas incluem hippies, hipsters, góticos, steampunks, motociclistas, punks, skinheads, gopnik, hip-hoppers, metalheads, cosplayers, otaku, furries e muito mais. O conceito de subculturas foi desenvolvido na sociologia e nos estudos culturais. As subculturas diferem das contraculturas – inclusive há uma constante confusão entre ambos termos.
Dentro da realidade da modernidade capitalista, estar ‘contra’ essa cultura e sua normatividade é uma forma de expressão anti-sistêmica, entretanto, quando isso se reproduz somente em aparências torna-se um método de escape para uma reflexão mais aprofundada sobre o tema e de forma que gere realmente uma mudança de comportamento e mentalidade a qual se distancie da mentalidade capitalista (individualista, liberal, opressiva, sexista, positivista, etc). Rêber APO, Abdullah Ocalan diz:
O conceito de ser anti-sistema é bastante problemático. Em primeiro lugar, essa oposição também significa ser anticivilização? Que aspectos inclui ou exclui? Como ela vê a relação do sistema com a modernidade? É possível construir um novo sistema fora do sistema existente sem se opor à modernidade do sistema? Como essa oposição vê a modernidade? Conseguiu identificar seu caráter dual? Tem uma compreensão da modernidade alternativa? Deixar de responder a essas perguntas deixa o conceito de forças antissistema no ar. É difícil desenvolver uma oposição significativa ao sistema sem projetos para o futuro e uma análise correta do passado. Para superar essas dificuldades e chegar a possíveis respostas a essas questões, baseei minha análise nos conceitos de civilização democrática e modernidade democrática. Acho que esse é o método correto na busca de uma alternativa que não caia nos círculos viciosos anteriores.
Eles se referem ao capitalismo quando falam do sistema, não necessariamente da modernidade como um todo. Eles diferem particularmente quando se trata do industrialismo e do estado-nação, as outras duas dimensões da modernidade. Eles não são claros quando se trata de civilização. Com suas visões complicadas, muitas vezes ocupam seus lugares em pólos opostos. Não é sempre que suas utopias futuras vão além da modernidade. Em suma, eles não estão tentando ir além da modernidade, mas melhorá-la. Para a maioria deles bastaria a modernidade sem o capitalismo, e eles não conseguem entender que isso é totalmente utópico.
Quando suas mentalidades e estruturas são examinadas, fica claro que eles falharam em superar genuinamente o liberalismo e a modernidade. Quer estejam na extrema esquerda ou na extrema direita do espectro liberal, o liberalismo acaba por integrá-los. Se eles são ou não incorporados aos monopólios capitalistas depende de sua compreensão da modernidade. Os movimentos pós-modernos, religiosos radicais, feministas e ecológicos são novos movimentos que surgiram em resposta a esses desenvolvimentos. Suas atuais posições ideológicas e práticas tornam duvidoso que sejam tão eficazes quanto os antigos oponentes do sistema, razão pela qual o neoliberalismo e a religiosidade radical podem ser um tanto influentes. Portanto, o que precisamos é de uma renovação intelectual, moral e política radical da oposição ao sistema. Nesse contexto, é importante, necessário e útil nos familiarizarmos com a história das forças antissistema.
Dentro das organizações ‘revolucionárias’ da esquerda ‘radical’, as aparentas da subcultura e contra-sistema se tornam evidente em ocupações, demonstrações culturais, protestos e etc. Entretanto, é importante refletir o quanto isso realmente dialoga com a sociedade a qual estes mesmos movimentos dizem lutar para mudar ou então construir algo novo. Um local de encontro, uma ocupa, um local de trabalho de base, reuniões e etc, que tenha uma estética e aparência degradável não dialogará com a sociedade. A ideia é justamente o oposto, que seja um local onde esses indivíduos se sintam confortáveis, em vez de ser um local de construção de uma alternativa junto a sociedade.
Enquanto os indivíduos e movimentos continuarem a insistir nessa postura ‘contracultura’, com essa postura de ‘chocar’, ‘irritar’, pouco será o avanço feito realmente na construção de algo. Até porque essas demonstrações não estão relacionadas propriamente com a cultura do pixo, a qual é uma representação popular da crítica a estética capitalista e de elite. É possível observar com as práticas de demais movimentos e organizações as quais têm uma postura contra a modernidade capitalista, mas ainda assim, centrados na ética e estética revolucionária – podemos citar aqui o PKK e seus quadros, o mesmo para os Zapatistas, até mesmo o MST e seus acampamentos mantém uma estética e postura a qual deve ser observada. Muitas vezes essa postura é apontada como dogmatismo por parte de grupos mais ‘radicais’, mas no final das contas, quem está realmente construindo algo com a sociedade? Sim, a sociedade está doente pelo câncer capitalista e seu sistema, mas apontar o problema e isolar-se em seus grupos de amiguismo político e locais que se tornam fuga para esse sistema não são suficientes para mudar essa realidade e resgatar a sociedade dos males da modernidade capitalista. A experiência em Hambach Forest e ZAD podem servir como exemplos práticos para isto.
Compreender a diferença entre sociedade e civilização é o primeiro e principal passo para essa mudança. Fomos criados dentro do sistema, temos muito de sua mentalidade interiorizado em nós. Rêbertî diz “80% do inimigo está dentro de nós”, isto não poderia ser mais preciso. Acho incrivelmente único como este movimento faz analises profundas sobre nós mesmos, nossa relação em sociedade, com a natureza e etc. Para podermos falar de revolução, para podermos um dia nos chamarmos de revolucionários, primeiros precisamos revolucionar a nós mesmos! Esta é a única maneira para viver verdadeira livre do sistema capitalista e sua mentalidade, que escraviza as pessoas a um nível de submissão jamais visto antes.