Brasileiros em Rojava falam sobre os efeitos do terremoto

Na cidade em que estamos em Rojava, nós brasileiros e internacionalistas sentimos a terra tremer, mas sem as consequências dramáticas que outras regiões sofreram. Mesmo com fronteiras que impossibilitam a nossa chegada, como na região de Afrin no Norte da Síria, atualmente ocupada pelo Estado turco e as cidades curdas no território da Turquia, a forte conexão que existe entre as pessoas que vivem no Curdistão fortalece a solidariedade. Nossas vozes surgem não apenas por esse sentimento, mas também para se rebelar contra um contexto sócio politico existente.

O terremoto de magnitude 7,8 ocorrido na madrugada do dia 6 de fevereiro já fez mais de 12.000 vítimas e, infelizmente, esse número deve aumentar significativamente nas próximas horas. As regiões mais afetadas são, principalmente, as áreas povoadas por curdos em ambos os lados da fronteira turco-síria, historicamente, negligenciadas e oprimidas por Ancara (como em Mara?), sob ocupação turca e extremista islâmica no norte da Síria (como em Afrin), tendo experimentado a repressão brutal de Assad (como em Aleppo) ou vivendo atualmente sob bombardeio turco (como em Tel Rifaat).

Este terremoto não é o primeiro a atingir a região, pois o território está entre três placas tectônicas, o que o torna um local propenso a isso, por exemplo, na Turquia ocorreu ao menos 230 terremotos superiores a 6 graus durante o século XX, 12 deles com mais de mil vítimas e em 1999 com quase 20.000 mortes. Estar atento a essa realidade nos permite perceber que o atual regime turco não tem feito uma política preventiva em regiões de maioria curda. Há anos, especialistas em sismologia alertam sobre o risco iminente de grandes movimentos tectônicos, sem qualquer reação do governo.

Na região síria, a desestabilização e as sequelas de anos de guerra são visíveis. O regime de Damasco, com diferentes aliados internacionais, como de Ancara, provou, ao longo da última década, estar disposto para fazer qualquer coisa para se manter no poder. O experimento de autonomia de Rojava só é tolerado por causa da força, determinação e sacrifícios que demonstrou.

Conforme ilustrado por inúmeros testemunhos, ao contrário da propagada do governo turco, muitas áreas estão abandonadas. Em muitos lugares (como Gaziantep) nenhuma ajuda chegou nas 12 horas cruciais após o terremoto. Essa ineficácia é em parte estrutural, voluntária e decorrente do contexto geopolítico que as regiões de maioria curda enfrentam. Hoje, nas redes sociais turcas, é assustador o número de comentários que menospreza a morte dos curdos, incluindo crianças. O governo turco está ameaçando aqueles que criticarem sua conduta em relação a catástrofe, por exemplo, como a criação de uma linha direta para denunciar atos ‘subversivos’.

Na Síria, as áreas mais afetadas estão sob ocupação turca e nas mãos de grupos islâmicos mercenários, dificultando o envio de ajuda. Mesmo com o desastre, o exército turco não parou com os ataques. A região de Tel Rifaat, atingida pelo terremoto, foi novamente bombardeada na terça-feira, 7 de fevereiro. A AANES (Rojava) tem demonstrado a intenção de prestar ajuda as regiões, enquanto o regime de Assad quer monopolizar toda a ajuda internacional.

Afrin e Idlib, áreas mais afetadas pelo terremoto estão sob controle turco.

 

Atualmente as regiões fortemente afetadas pelo terremoto estão enfrentando um inverno rigoro. Sem energia e gás não há alternativa para as pessoas se aquecerem. É necessário todo o tipo de ajuda, desde mantimentos básicos, combustível, até maquinários pesados para a retirada dos corpos e de pessoas presas nos escombros.

Regiões gravemente afetadas são lugares que um modelo político autenticamente democrático foi e continua sendo construído por décadas. Este experimento é uma ameaça aos poderes constituídos pelos Estados-nação, inimigos de uma autonomia local e de uma auto-organização descentralizada, por isso menosprezar essas regiões afetadas é uma maneira de destruir um modelo político alternativo e um povo que resiste fortemente contra um sistema opressor.

Assim, como a Administração Autônoma de Rojava, nós brasileiros da Brigada Internacionalista Irmã Dorothy, queremos que a solidariedade se expresse em todos os lugares e de maneira concreta. Amanhã, quando a comoção diminuir e as câmeras se afastarem, esperamos que as vítimas não sejam esquecidas. Isso dependerá de cada um de nós e de como atuaremos, esta é a essência do internacionalismo que nos habita e não conhece fronteiras.

Regiões gravemente afetadas são lugares que um modelo político autenticamente democrático foi e continua sendo construído por décadas. Este experimento é uma ameaça aos poderes constituídos pelos Estados-nação, inimigos de uma autonomia local e de uma auto-organização descentralizada, por isso menosprezar essas regiões afetadas é uma maneira de destruir um modelo político alternativo e um povo que resiste fortemente contra um sistema opressor.

Assim, como a Administração Autônoma de Rojava, nós brasileiros da Brigada Internacionalista Irmã Dorothy, queremos que a solidariedade se expresse em todos os lugares e de maneira concreta. Amanhã, quando a comoção diminuir e as câmeras se afastarem, esperamos que as vítimas não sejam esquecidas. Isso dependerá de cada um de nós e de como atuaremos, esta é a essência do internacionalismo que nos habita e não conhece fronteiras.