Apolônio de Carvalho (Corumbá, 9 de fevereiro de 1912 – Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2005) foi um militante comunista brasileiro, reconhecido também como combatente das Brigadas Internacionais na Guerra Civil espanhola e como herói da Resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial na luta contra a ocupação nazista.
Apolônio de Carvalho foi uma figura única no cenário da vida política brasileira. Poucos como ele viveram com tal intensidade a “paixão” que o impulsionou, desde seus anos de cadete na Escola Militar Realengo, a se engajar na luta pelos ideais socialistas e contra regimes opressivos, com uma dedicação que se manifestou em todos os episódios por ele vividos: da militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e na ANL (Aliança Nacional de Libertação) à participação na Guerra Civil espanhola e na Resistência francesa contra o fascismo; da luta clandestina contra o período militar no Brasil, como membro do PCBR, à militância no PT, desde o momento da fundação do partido até sua morte.
Apolônio de Carvalho era filho de um soldado de Sergipe e de uma mãe do Rio Grande do Sul. Ele teve contato com a política desde muito jovem, quando freqüentou a escola militar, como disse à revista Teoria e Debate em 1989: “No final de 1933 eu já era oficial, achava que era necessário mudar a sociedade brasileira”, disse ele.
Dois anos depois ele ajudou a criar a ANL: “um colega do Rio Grande do Sul, um capitão do exército, me falou da ANL (…) Então, participei da organização desta frente popular”, sendo considerado um traidor, pois não mais compartilhava os valores que defendia e não abandonava sua carreira militar.
Preso em 1936 pelo governo Getúlio Vargas, ele foi destituído de seu posto militar e expulso do exército.
Após sair da prisão em junho de 1937, Apolônio aderiu ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Segundo Apolônio disse a Teoria e Debate, a ideologia do PCB “era muito semelhante à da ANL: contra os monopólios estrangeiros, pela reforma agrária, pela autonomia sindical, pelas liberdades sindicais, por amplas conquistas sociais”. Ele recebe instruções para embarcar para a Espanha onde, junto com outros vinte brasileiros, lutará nas Brigadas Internacionais do lado das forças republicanas contra os fascistas liderados pelo general Francisco Franco.
A GUERRA CIVIL ESPANHOLA E A RESISTÊNCIA PARTISAN NA FRANÇA CONTRA O NAZISMO
Apolônio deixa a Espanha com as Brigadas Internacionais em fevereiro de 1939 e vai para a França, onde permanece em campos de refugiados até maio de 1940, quando consegue fugir do campo de Gurs, indo para Marselha. É nesta cidade portuária que ele se junta à Resistência Francesa em 1942, da qual se torna comandante da guerrilha partidária para a região sul, com sede em Lyon. É também em 1942 que ele conhece Renée France Laugery, uma jovem de 17 anos, militante comunista da Resistência, que se tornaria sua companheira para o resto de sua vida. Em janeiro de 1944, Apolonius e Renée se estabeleceram em Nîmes, onde, em fevereiro, organizaram um ataque à prisão da cidade, libertando 23 militantes da Resistência. Em maio, eles se mudaram para Toulouse. Em agosto, Apolônio liderou a libertação de Carmaux, Albi e Toulouse. Em novembro, nasce o primeiro filho do casal, René-Louis. Por sua coragem, Apollonius é considerado um herói na França, onde foi condecorado com a Legião de Honra.
O fim da guerra encontra sua família em Paris, de onde embarca no ano seguinte para o Rio de Janeiro. Em 1947, nasce o segundo filho do casal, Raul. Apolônio, Renée e os dois filhos vão para a clandestinidade, militando entre Rio e São Paulo até 1953, quando parte para um curso na União Soviética que dura cerca de quatro anos. Em 1955, Renée o encontra em Moscou, e em 1957 a família está de volta ao Brasil, vivendo semi-legalmente, situação que dura até o golpe militar de 1964.
PRESO E TORTURADO SOB A DITADURA MILITAR NO BRASIL
Nos anos 60, ele participou da oposição popular ao regime militar. Logo após o golpe de 1 de abril de 1964, Apolônio começa a viver em profunda clandestinidade no Estado do Rio de Janeiro, longe de sua família. Como resultado de desacordos com o Comitê Central do Partido Comunista (do qual ele era membro) Apolônio e a Corrente Revolucionária do Estado do Rio deixaram o PCB em 1967. Em abril do ano seguinte, junto com Mário Alves, Jacob Gorender e outros dissidentes, Apolônio fundou o PCBR (Partido Comunista Revolucionário Brasileiro).
Em janeiro de 1970, durante a queda que afetou dezenas de militantes do PCBR, Apolônio e Mário Alves foram presos no Rio e Jacob Gorender em São Paulo. Todos foram interrogados e Mário Alves desapareceu. Em fevereiro, seus filhos Raúl e René-Louis também foram presos.
Em junho, Apolônio e outros 39 presos políticos brasileiros chegam a Argel, trocados pelo embaixador da Alemanha Ocidental Ehrenfried von Holleben, sequestrado no Rio de Janeiro em uma ação conjunta da Ação Libertadora Nacional (ALN) e da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). René-Louis será libertado em 1971, trocado (junto com outros 69 prisioneiros políticos) pelo embaixador suíço, Giovanni Bucher. Raul é libertado da prisão no ano seguinte. Depois disso, Renée deixa o Brasil e a família se reúne em Paris.
Durante os anos em que teve que ficar longe de terras brasileiras, ele mantém contato com o Brasil e se articula com os exilados no exterior. Ela retorna ao Brasil em outubro de 1979, após a Anistia em agosto daquele ano.
No final dos anos 70, aproximou-se dos grupos que então trabalhavam para criar o PT, tornando-se um de seus fundadores. “Tivemos uma imensa simpatia pelo PT”, disse ele. “Em fevereiro de 1980, quando (o partido) é oficialmente lançado, vemos o primeiro partido de esquerda do século inteiro que pleiteia, como uma de suas características essenciais, a conquista da legalidade”. Ele permanece na liderança do novo partido até 1987, quando ele desce devido a conselhos médicos.
“Apesar das limitações de saúde e idade, Apolônio continua sendo um militante que nunca se esquivará dos debates e da manifestação pública de suas posições como um socialista convicto. Um socialista que soube combater criticamente as distorções do socialismo real, mas que, não por isto (ou por esta mesma razão), a queda do muro de Berlim ou o diversionismo das teorias propagadas pelo capital foram capazes de se curvar”.
Entusiasta das ações praticadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao qual sempre prestou apoio e com o qual sempre esteve presente, diante do qual não desistiu de críticas ou esperanças. Para ele, um novo mundo socialista sempre foi possível e pode estar sempre ao seu alcance, desde que estejamos dispostos a nos organizar e lutar por ele.
UM EXEMPLO PARA A JUVENTUDE REVOLUCIONÁRIA BRASILEIRA
Apolônio apresenta à juventude brasileira a linha prática da importância do internacionalismo revolucionário como a responsabilidade de todo revolucionário. Viver de acordo com suas idéias e dedicar-se à luta é a única maneira de construir uma alternativa ao sistema capitalista. Hoje, sob um mundo e um sistema globalizado, poucos tomam a iniciativa de viver de tal forma. Entretanto, há brasileiros que, reconhecendo a realidade da revolução no Curdistão e suas práticas, se aproximaram dela e reativaram o espírito revolucionário internacionalista que Apolônio viveu de forma exemplar!